21 de junho de 2016

O Recomeço Após o Crime

Ex-detentos contam como conseguiram se reinserir no mercado de trabalho e especialistas dão dicas essenciais para todos aqueles que erraram e desejam ter uma nova chance


"Tudo que eu queria era recomeçar, mas não sabia como." Esse era o pensamento de Haroldo Dias Souza, de 48 anos, (foto ao lado) ao ver a luz do sol pela primeira vez após 15 anos de detenção. Desta vez ele estava disposto a mudar sua história e sair do mundo do crime, mas como conseguir trabalho após ter cometido sucessivos erros perante a lei que acabaram com sua reputação? 

O drama de Haroldo mostra muito bem o que a maioria dos ex-detentos passa após cumprir suas penas. E o número de presos é alto. Segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), o Brasil está em quarto lugar entre os 10 países com maior população carcerária do mundo. São 622.202 pessoas privadas de liberdade para pouco mais de 360 mil vagas.

O atual diretor-presidente da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário do Mato Grosso do Sul (Agepen-MS) e juiz de Direito, Ailton Stropa Garcia, explica que, apesar da superlotação nas prisões, ele tem acompanhado verdadeiras histórias de transformação. “Há muitos bons exemplos em nosso sistema prisional. Só que a vitória nesse campo depende da participação ativa do Estado”, ressalta.

A chama que incita à mudança

Haroldo nasceu em Minas Gerais e com 18 anos se mudou para São Paulo. Movido pela ilusão de ficar rico em um curto espaço de tempo se envolveu com uma facção que clonava cheques e cartões. “Com o dinheiro que ganhei cheguei a cursar Direito, que era um sonho de infância. Quando estava no terceiro semestre, fui preso”, diz.

Passados 15 anos, em 2012, e após ser preso pela décima primeira vez, Haroldo conheceu na detenção um obreiro da Universal que entregou a ele uma edição da Folha Universal e o livro Fé Racional, do Bispo Edir Macedo. “Por meio da leitura, vi que o crime não me trazia paz. Comecei a participar dos encontros na igreja do presídio e, mesmo sem ter ninguém para me visitar, não me sentia mais sozinho”, recorda.

Em 2015, ele ganhou a liberdade. “Cheguei à estação rodoviária Barra Funda, em São Paulo, com o livro do Bispo Macedo embaixo do braço. Na primeira noite dormi de favor. Um colega havia me emprestado R$ 100 e, com esse dinheiro, comprei algumas camisas para revender. Logo paguei meu próprio aluguel”, conta.

Depois, fez um currículo e passou a distribuí-lo pelos comércios. “Hoje, trabalho como garçom em um restaurante e também sou corretor de imóveis. Meu desejo é ter minha própria imobiliária. Casei no começo do mês e estou realizado. A fé me salvou”, comemora.

Ajuda que fortalece o trabalho do Estado

Segundo Ailton Stropa Garcia, existem alguns órgãos que atendem os egressos, mas isso não basta para uma reinserção efetiva. “Por isso, o trabalho que a Universal realiza é de suma importância. Ele permite que, por meio da fé, o interno consiga acreditar em um novo futuro”, enfatiza.

Há mais de 30 anos, a Universal mantém um vasto trabalho nos presídios e penitenciárias. São mais de 11 mil voluntários que atendem 80% da população carcerária do País. Além de visitas, reuniões, batismos e orações, o grupo de evangelização também promove ações sociais.

“Nossa missão dentro e fora das unidades prisionais é fazer com que cada uma dessas pessoas encontre um novo caminho de vida por meio da fé. As levamos a refletir (meditar) na Palavra de Deus. E temos acompanhado muitos casos de sucesso de pessoas que conseguem se recolocar no mercado de trabalho”, explica o coordenador da evangelização em unidades prisionais no Brasil, bispo Afonso da Silva.

Fé que transforma

Vanessa de Lima Costa, de 35 anos, (foto ao lado) comerciante, e Robert Martelli, de 42 anos, (foto abaixo) especialista em banco de dados, são dois dos casos de sucesso citados pelo bispo Afonso da Silva. Depois de conheceram o trabalho da evangelização no presídio em que estavam, eles tiveram certeza de que poderiam transformar suas vidas.
A prisão de Vanessa aconteceu em 2008, quando ela participou de um sequestro. “Fui condenada a sete anos de reclusão. Eu já tinha sido obreira da Universal, então me sentia envergonhada quando via as obreiras.

Mas, em meio ao sofrimento, nasceu em mim o desejo de voltar para a fé. Arrependi-me de tudo que havia feito e decidi que quando saísse procuraria um trabalho honesto”, afirma.

Há nove meses em liberdade ela se considera vitoriosa. “No começo foi difícil porque existe preconceito, só que persisti. Meu esposo nunca desistiu de mim, trabalhamos juntos e temos o nosso próprio comércio de distribuição de bebidas. E não vou parar por aí. No ano que vem vou estudar Jornalismo”, detalha Vanessa, que hoje é candidata a obreira na Universal.

Em janeiro de 1998, Robert cometeu um assalto à mão armada. Foi preso e condenado a cinco anos e sete meses de reclusão. “Já fazia um ano que estava preso quando participei de uma Reunião de Libertação. Entendi que tinha um grave problema espiritual”, diz.

Após três anos e meio, ele ganhou a liberdade condicional. “Recomecei a trabalhar vendendo pães de queijo feitos pela minha esposa. Ao mesmo tempo, disparava currículos diariamente. E assim, há 11 anos, consegui ser contratado para trabalhar em uma multinacional do varejo e estou lá até hoje”, destaca.

O outro lado da moeda

Mas e o lado de quem emprega? Sabe-se que a confiança é essencial para o convívio no ambiente de trabalho. Assim, a dúvida entre dar ou não uma chance a quem já foi desonesto uma vez é recorrente entre os empresários.

Luiz Carlos de Souza, de 54 anos, (foto ao lado) e Sérgio Hoffman, de 43 anos, (foto abaixo) expõem que já abriram as portas de suas empresas para dar oportunidades a ex-detentos e afirmam com toda certeza: vale a pena.

“Há sete anos estava com uma vaga de ajudante de padeiro. Entrevistei um rapaz de 28 anos que já tinha cumprido pena. Na hora fiquei desconsertado, mas vi sinceridade e o contratei”, conta Luiz Carlos.

Durante os três anos em que trabalhou na padaria de Luiz Carlos, o jovem se destacou. “Sei o quanto é complicado, porém acredito que eles merecem se recolocar profissionalmente. É preciso ampliar o trabalho de reintegração. É a chance de construir um novo Brasil”, alega Luiz Carlos.

Sérgio é proprietário de uma imobiliária e relata que, há quatro anos, quando fazia o trabalho de evangelização nos presídios, conheceu um homem chamado Marcos. “Vi o desejo de mudança dele e, logo que ele saiu, dei a ele uma oportunidade profissional. Ele me surpreendeu, porque executava todo o trabalho com excelência”, revela.

O rapaz citado por Sérgio é Marcos Datri, que hoje é pastor na Universal. Sérgio se orgulha por ter tido a oportunidade de ajudá-lo. “Ganhei um amigo. Tenho muita alegria em saber que faço parte da história de superação dele. Por isso, temos que julgar menos as pessoas que querem recomeçar e ajudá-las nesse processo”, finaliza.

O desejo vem de dentro

Pessoas que antes se sentiam apenas um número para a sociedade, hoje despertaram sua fé e conseguem dar todos os dias um novo passo para a felicidade. Elas são exemplos de que é possível se arrepender e mudar de verdade.

Todo erro traz consequências, mas não é porque você falhou, seja pelo motivo que for, que a esperança do recomeço deve se apagar de sua vida. Mesmo que seja difícil, escolha o certo e não desista de lutar. O primeiro passo para transformar qualquer atitude é a decisão, depois vem o esforço e, com ele, a persistência para construir um novo amanhã.

E lembre-se de que você não está sozinho nesta batalha.

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Por Ana Carolina / Fotos: Marcelo Alves

Fonte: Universal.org

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